Ainda Estou Aqui (2024) e Iracema, Uma Transa Amazônica (1974): o sorriso da resistência
Antes mesmo de Ainda Estou Aqui estrear, já dava pra saber pelos trailers que a cena na qual Eunice Paiva (Fernanda Torres) manda seus filhos sorrirem para a foto que sairia no jornal sobre eles (após o sequestro e desaparecimento de Rubens Paiva pelo regime militar) seria uma das mais icônicas da carreira de Walter Salles. (Se você quiser rever um trecho da cena, tá no finalzinho do trailer acima!) Essa é uma daquelas raras cenas, mesmo dentro da filmografia de um diretor do calibre do Salles,
becapuig: Acho que o sorriso de Eunice tão marcante para o público por ser um ato desafiador da política de medo e silêncio da ditadura. É um ato baseado no amor e na coragem. A gente vê muito hoje em dia um discurso de desânimo e medo e mundo derretendo e se desmontado, e quando nos deparamos com alguém que frente à um poder violento avassalador (no filme o governo ditatorial, hoje em dia talvez o aquecimento global -- dentre tantas outras coisas) se recusa a se calar e oferece no lugar um gesto de esperança e resiliência, é preciso ser muito frio para não sentir algo fervilhar dentro de si.