Filmes de terror são esnobados, mas um documentário sobre eles, não

Na verdade, o documentário Chain Reactions em si não é o foco aqui — a mensagem que quero passar é um grande absurdo no mundo do cinema de hoje.

Eu descobri Chain Reactions através da lista de indicações para "Melhor Documentário" no Festival Internacional de Cinema de Veneza deste ano. Quando o vi, logo questionei: será que um filme de terror finalmente recebeu o reconhecimento merecido? Mas não — Chain Reactions é um documentário. E não é qualquer documentário, mas um sobre como mestres do terror como Tobe Hooper , Takashi Shimizu, Karyn Kusama , Alfred Hitchcock e outros grandes nomes do gênero criam obras-primas aterrorizantes.

Se você é um fã de terror como eu, esses nomes são familiares — suas obras remodelaram o cenário do cinema; se você não gosta muito do gênero e só olha os comentários pela internet, provavelmente os descartaria, como se fossem criadores de filmes B ruins.

Mas se você se aprofundar em suas obras, vai perceber a quantidade de criatividade e esforço investidos em cada frame.

Veja O Massacre da Serra Elétrica, de Hooper, por exemplo. Na época do lançamento, foi criticado por ser "muito violento", mas a questão é: não é um filme sobre sangue e esquartejamento. O verdadeiro terror está na atmosfera aparentemente inescapável, crua e corajosa, na qual o medo parece tão espesso que quase dá para sentir o gosto. Seja pelas restrições orçamentárias ou pela engenhosidade de Hooper, as cenas de perseguição têm uma beleza brutal, cheias de uma iluminação forte e de uma tensão implacável, amplificadas pela motosserra zumbindo que parece estar vindo atrás de você também. Hooper não depende dos sustos convencionais predominantes na maioria dos filmes de terror; ele te aprisiona psicologicamente em uma sensação sufocante de desesperança e desamparo decorrente de sua incapacidade de se libertar. O filme foi um sucesso porque te arrasta para o mesmo pesadelo em que os personagens estão, em vez de apenas dar sustos.

Apesar de seu brilhantismo, O Massacre da Serra Elétrica tem uma respeitável, mas básica, nota 7,8 em Peliplat e não ganhou nenhum prêmio importante.

Depois, podemos falar de O Grito, de Takashi Shimizu. A cena em que a garota fantasma desce lentamente as escadas é inesquecível. Shimizu não usa cortes rápidos ou barulhos altos para sacudir o público; ele se inclina para uma construção insuportavelmente lenta, apertando o nó em seu estômago a cada frame. Você sente um terror crescente conforme a garota se aproxima porque sabe o que está por vir, mas não tem o poder de impedir. Essa é a beleza do horror de Shimizu — ele cava fundo em sua psique e alimenta seu medo do inevitável, poupando você de "sustos" baratos.

Mesmo com tudo isso, O Grito tem apenas uma nota 6,8 em Peliplat. E prêmios? Nenhum.

Seguindo em frente, temos O Convite, de Kusama. Esse não é o típico filme de terror cheio de criaturas sobrenaturais e sangue. Na verdade, começa mais como um thriller psicológico, mas conforme o jantar se desenrola, os personagens passam a se comportar de uma forma ridícula e o terror aumenta lentamente, aos poucos te afundado até o pescoço em algo aterrorizante. Kusama dá uma série de dicas que gradualmente envolvem os espectadores em uma sensação onipresente de medo. Ela não depende de clichês para assustar; foge do caminho batido para construir uma atmosfera de desconforto e paranoia, e quando você está totalmente submerso nisso, não há saída. Essa manipulação psicológica é o que faz sua pele arrepiar quando assiste O Convite.

E ainda assim, sua nota em Peliplat? Um miserável 5,9.

Claro, não posso deixar de fora a obra-prima de Alfred Hitchcock, Psicose. Não é só um filme de terror, mas, sim, um dos filmes mais influentes da história do cinema. A cena do chuveiro? Icônica. A música, a faca e o grito de Janet Leigh — tudo ficou gravado na memória coletiva de inúmeros fãs de cinema e inspirou inúmeros cineastas. Mas você sabia que Psicose não ganhou o prêmio de "Melhor Filme" no Oscar? E o próprio Hitchcock? Ele nunca levou um Oscar de "Melhor Direção". Um filme que reescreveu as regras do terror nem recebeu o reconhecimento que merecia — é absolutamente ultrajante.

Por que os filmes de terror são sempre desprezados pelo mainstream? Acho que tem muito a ver com a natureza humana. Somos programados para preferir coisas que são bonitas e reconfortantes. Coisas sombrias e inquietantes? Nem pensar. E isso não se limita apenas ao cinema — é real também em outras formas de arte: no universo das pinturas, as pessoas se aglomeram para admirar A Noite Estrelada de Vincent Van Gogh ou os Nenúfares de Claude Monet por causa das cores radiantes que chamam a atenção; por outro lado, as representações sombrias e perturbadoras de Francisco Goya de humanos em situações intimidadoras não são exatamente tão populares.

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O mesmo acontece na literatura: O Gato Preto e A Queda da Casa de Usher, de Edgar Allan Poe, agora são aclamados como clássicos do terror, mas, em sua época, não ganharam nenhum grande prêmio literário. As pessoas preferem histórias edificantes, cheias de amor e salvação.

Essa teoria se estende à música também: pense "Threnody for the Victims of Hiroshima", de Krzysztof Penderecki, uma das peças mais assombrosas, indutoras de ansiedade e angustiantes já compostas — ela literalmente grita horror. Embora tenha sido reconhecida em círculos nichados, nunca ganhou a aclamação cultural generalizada que merecia. As pessoas simplesmente não gravitam em direção ao dissonante e ao aterrorizante.

E por que os grandes prêmios de cinema continuam ignorando o terror? A maioria argumenta que é porque os filmes de terror são "superficiais" ou "artificiais", projetados para aumentar as vendas de ingressos por meio dos sustos. Mas filmes como O Exorcista oferecem muito mais do que apenas sustos — eles exploram a fé, o medo e a natureza humana. E até mesmo esse, que é considerado um dos maiores filmes de terror de todos os tempos, foi mal representado no Oscar — nem de longe recebeu a aclamação que merecia.

Aqui vai a ironia: um documentário sobre diretores de terror pode ganhar prêmios, mas os filmes inovadores que esses diretores criaram continuam sendo esnobados. Não é hora de refletirmos sobre isso? Os filmes de terror fizeram enormes contribuições artísticas e merecem ser reconhecidos. Talvez seja hora de finalmente receberem os devidos aplausos.

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Oswaldo Ferrer

Gostei do seu artigo, é bem merecido, convido-o a visitar e gostar do meu -
https://www.peliplat.com/es/article/10039803/rocket-raccoon-el-corazon-roto-de-guardianes-de-la-galaxia-vol-3

01:18 21 de Janeiro de 2025
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