Richard Linklater, o diretor de Antes do Amanhecer (1995), é, sem dúvida, um dos cineastas contemporâneos que melhor entende como usar o "tempo" como ferramenta narrativa. Sua trilogia "Antes", que abrange Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-Sol (2004) e Antes da Meia-Noite (2013), apresenta a dança do amor entre Ethan Hawke e Julie Delpy. O tempo, o maior inimigo do amor, está presente nesses filmes, capturando o êxtase e a solidão do romance ao longo de vinte anos.
Richard Linklater embarcou em uma nova jornada cinematográfica com Boyhood (2014). Ao contrário de seus trabalhos anteriores, que evoluíram organicamente, Boyhood foi um projeto meticulosamente planejado desde o início. A ambição do filme era documentar a vida de um garoto, interpretado por Ellar Coltrane, ao longo de doze anos, oferecendo uma perspectiva única sobre o processo de crescimento.
A essência da vida é um ciclo interminável de esperança, desgosto, cura e renovação. O filme, que começou em 2002, acompanha Patricia Arquette, que passa de uma ingênua estudante universitária a uma mãe solteira, e Ethan Hawke, que interpreta um pai despreocupado e travesso. Enquanto cuidam de seus filhos, a personagem de Arquette amadurece e se torna uma mulher responsável, enquanto Hawke continua sendo o eterno garoto.
Em Boyhood, a mãe é sempre a pragmática, enquanto o pai desempenha o papel de pai charmoso e tranquilo. A personagem de Arquette passa por dois relacionamentos fracassados, cada um deles ajudando-a a crescer e, por fim, a atingir suas metas educacionais e profissionais. Linklater até apresenta um personagem militar para criticar sutilmente a dicotomia da vida militar.
O elemento mais marcante de Boyhood é a transformação dos dois atores infantis, que crescem diante de nossos olhos ao longo de doze anos. O risco era significativo; a incerteza de como a aparência e a atuação das crianças mudariam com o tempo poderia ter prejudicado o projeto. No entanto, sob a direção de Linklater, os jovens atores, especialmente Ellar Coltrane, parecem se misturar perfeitamente à narrativa do filme, criando um diálogo atraente entre o presente e o futuro.
Observar a transformação de Coltrane, especialmente o brilho consistente em seus olhos e seu andar ao longo dos anos, revela a magia do cinema. Linklater criou uma atmosfera ficcional quase real que é totalmente cativante.
A pungente frase final do filme: “Nós aproveitamos os momentos ou os momentos se aproveitam de nós?”, encapsula o tema universal de amadurecimento e a realidade agridoce da passagem do tempo. Boyhood apresenta partes da vida com as quais muitos podem se identificar, como a despedida emocionada da personagem de Patricia Arquette quando seu filho se muda. Suas lágrimas simbolizam não apenas o vazio de um ninho vazio, mas também a marcha implacável do tempo que corroeu grande parte de sua juventude. É um sentimento que a maioria de nós já sentiu em algum momento de nossas vidas.
Boyhood, de Linklater, é uma prova do poder do tempo na narrativa, criando uma experiência cinematográfica inesquecível que reflete a realidade de crescer, envelhecer e a inevitável marcha do tempo.
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