Tsuma musume haha (2019)

Como os homens japoneses estão lidando desde que as mulheres desapareceram?Uma premissa fictícia sustenta tacitamente Alain Della Negra e a documentação de vários anos de Kaori Kinoshita sobre os relacionamentos amorosos modernos.Se tal especulação desconcertante existe,é porque vários fenômenos estão aí para comprová-lo.Primeiro,é claro,o amor sincero que os humanos dedicam - em todo o mundo, mas de forma muito marcante no Japão - às representações humanas: objetos inanimados (bonecas de amor,dakimakura),avatares virtuais (popstars digitais,personagens de videogame) ou fantasias corporais (cosplay,kigurumi,zentai).Há também uma difusa preocupação com o futuro: onde pode o desejo encontrar uma âncora sólida num Japão atingido por desastres naturais,suas estruturas econômicas e sociais abaladas,assombrado pelo declínio ou mesmo desaparecimento de sua população?Cáustico, mas cômico,extravagante, mas nunca irônico,o filme de Kinoshita e Della Negra inventa uma nova forma de documentário,um alegre contrapeso criado a partir de todas as ficções capazes de repovoar uma realidade inquietante e vibrante.