Duna: A Profecia é uma das séries mais comentadas atualmente, gerando discussões intermináveis desde a estreia. Porém, ela me decepcionou bastante — não porque a série em si é malfeita, mas porque destaca o quanto é difícil replicar o brilhantismo único de Denis Villeneuve . Seus filmes elevaram a narrativa visual a um nível de tirar o fôlego, enquanto Duna: A Profecia luta para tentar imitar essa essência.
Desde o primeiro episódio, fica claro que a série busca a estética de Villeneuve, mas o resultado parece uma imitação superficial.
Tentativa frustrada de replicar o filme
O elenco tem semelhanças com o do filme, com atores escolhidos por suas características escultóricas, quase sobrenaturais, além de entregar diálogos carregados de seriedade. A paleta de cores permanece minimalista, dominada por amarelos áridos e cinzas desolados. Até mesmo o design da nave espacial mantém esse equilíbrio entre o futurístico e o primitivo, como um aceno à estética do filme (para uma história ambientada 10.000 anos atrás, você não esperaria pelo menos alguma variação em tecnologia ou cultura?). Além disso, o enquadramento e as composições muitas vezes parecem homenagens diretas às obras de Villeneuve.
Vamos pensar, por exemplo, na cena em que uma anciã moribunda (esqueci o nome dela, mas provavelmente é uma ex-líder das Bene Gesserit) prevê um enorme verme da areia devorando uma fortaleza — um verme ainda maior do que o do filme. Seu surgimento é acompanhado por efeitos sonoros e uma trilha inconfundivelmente inspirada no estilo icônico de Villeneuve. É claro que o diretor tenta evocar a mesma desgraça iminente — ou, para ser mais preciso, uma sensação de que o perigo está chegando de maneira lenta, mas implacável, e embora ninguém seja imediatamente morto, não há chance de escapar.
Porém, esse sentimento se dissipa rapidamente, provando que a série pode ter capturado a superfície do filme, mas perde sua essência.
Diálogos e exposição arruínam o mistério
No fim das contas, o que destrói a atmosfera, na minha opinião, são os diálogos incessantes. Os personagens estão sempre explicando histórias e narrando suas emoções, o que drena o mundo de seu fascínio enigmático.
O uso da Voz (a habilidade das Bene Gesserit) é um exemplo gritante disso.
Em Duna: A Profecia, a Voz é demonstrada pela primeira vez quando Valya Harkonnen a usa em Dorotea. Momentos antes, Valya avisa: "Eu imploro, não faça isso", mas quando Dorotea se recusa a ouvir, ela recorre ao uso da Voz quando grita: "Pare!". Diante da incredulidade de Dorotea, Valya comenta: "É uma nova habilidade que estou aprimorando". Mesmo que a Voz incapacite Dorotea de maneira letal, a construção parece muito simplista, e as repetidas explicações acabam com qualquer misticidade.
Em contraste, a representação da Voz no filme tem sucesso em sua contenção. Uma cena memorável em Duna: Parte Um mostra Lady Jessica e Paul Atreides capturados por inimigos. A situação deles parece não ter esperança, mas um pequeno descuido dos captores permite que usem a Voz e aniquilem os inimigos em um piscar de olhos. Sem exposição excessiva, a cena exibe o poder mortal da Voz, deixando os espectadores boquiabertos.
Além de diminuir o mistério, o uso excessivo de diálogos também rouba o suspense da série. É como se os diretores tivessem medo de que os espectadores pudessem se perder, mesmo não havendo nenhum desenvolvimento substancial da trama. No filme, não há explicações de mãos beijadas — os espectadores juntaram as peças por meio de dicas sutis, como as expressões de Paul, os rituais dos Fremen e a linguagem da câmera. No entanto, a série parece uma palestra, dando cada detalhe na boca do público e, ao longo do processo, drenando a tensão.
Excesso de confiança no CGI
Outra falha está na forte dependência do CGI. Apesar de ser impressionante em fotos isoladas, a falta de detalhes táteis prejudica a credibilidade do ambiente desértico. Os filmes de Villeneuve evitaram essa armadilha, criando cenas majestosas e incorporando muitos close-ups imersivos.
A sequência de abertura de Duna: Parte Dois, por exemplo, mostra os Fremen emboscados em um campo de batalha no deserto. Em vez de usar cenários expansivos em CGI, Villeneuve foca no granulado — partículas de areia se movendo sob os pés, a respiração sincronizada dos Fremen e a vitalidade palpável do deserto. Cada grão de areia parece vivo, algo que a série simplesmente não reproduz.
Por que Villeneuve é insubstituível?
Isso me leva ao que torna Villeneuve verdadeiramente excepcional: sua habilidade de fazer de cada quadro uma narrativa. Sua representação de objetos colossais, por exemplo, parece imersiva de uma maneira única. Quando um verme da areia surge em ambos os filmes, Villeneuve atrasa sua revelação, focando em grãos de areia trêmulos, com uma trilha sonora assustadoramente profunda, e depois utilizando um zoom-out lento que contrasta a imensidão do verme com a fragilidade humana.
Cenas semelhantes em Duna: A Profecia não têm esse impacto visceral — elas parecem planas, e até mesmo mecânicas. O próprio Villeneuve disse que desejava que cada quadro de seus filmes se assemelhasse a uma pintura. Assim, ele trabalhou pessoalmente com designers de produção e diretores de fotografia para criar luzes e sombras que revelassem as camadas e texturas do deserto. Essa atenção meticulosa aos detalhes, vista não apenas em Duna, mas também em filmes como Incêndios e Blade Runner 2049, o diferencia como cineasta. Villeneuve realmente gosta de filmar desertos.
Considerações finais
Assistir Duna: A Profecia só aumentou minha admiração por Villeneuve. Suas obras são envolventes não apenas porque são visualmente deslumbrantes, mas porque cada elemento visual transmite emoção e história. Enquanto a série luta para viver de acordo com seu legado, sem querer acaba destacando por que Villeneuve é uma das vozes mais diferenciadas do cinema moderno.
Um verdadeiro artista não é definido por sua habilidade de criar um estilo particular, mas por sua atitude exigente em relação aos detalhes. Villeneuve não é apenas um diretor; ele esculpe mundos que parecem inteiros, vivos e impossivelmente reais.
Compartilhe sua opinião!
Seja a primeira pessoa a iniciar uma conversa.