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O feminismo sutil das comédias românticas natalinas

Spoilers

Chegou aquela época… dos romances estereotipados de Natal. Já se foram os dias em que clássicos como Milagre na Rua 34, Esqueceram de Mim e O Grinch eram produzidos. Hoje, é mais provável encontrar uma comédia romântica fraca como A Princesa e a Plebeia do que qualquer título que realmente cause um impacto cultural. O que aconteceu conosco e com nossa cultura que nos fez cair tanto?

Engraçado você perguntar, porque eu tenho uma teoria: esse tipo de filme é uma fuga feminista.

Vou admitir algo muito vergonhoso: eu assisti Um Amor Feito de Neve. Juro que não costumo assistir a romances natalinos trash, mas a premissa desse era irresistivelmente ridícula. Uma mulher dá vida a um boneco de neve e ele se torna um homem... sexy? Tenho uma profunda apreciação por bobagens, então não tinha como escapar. Só podia torcer para que fosse tão ruim quanto prometia.

Infelizmente, fiquei decepcionada no final. O filme quase chega a ser dolorosamente calmo. O problema não é Jack, o boneco de neve sexy — ele com certeza é sexy. Todas as velhinhas da cidade o desejam e o filme não economiza nas imagens gratuitas de seu tanquinho, além de implicações sobre o quanto "aquela parte de seu corpo", se é que vocês me entendem... é impressionante. Só que nada acontece. Sua sensualidade serve apenas para ser admirada, não usada. A cena de maior ação que recebemos é quando ele beija a protagonista no final.

Então, se não é devido ao apelo sexual, por que Kathy, a protagonista, acaba se apaixonando por Jack? Para descobrir isso, temos que olhar um pouco além da superfície: Jack cozinha para ela; ele conserta a casa dela, é bom com crianças e participa ativamente da comunidade; mais importante, é empático e respeita seus limites. Parece que Kathy se apaixona por ele porque é um cara atencioso e prestativo.

E foi então que eu percebi.

O que o Natal significa para você? Talvez o primeiro pensamento seja se reunir com a família, comer uma ceia gostosa e trocar presentes. É um ótimo momento para relaxar e passar um tempo com as pessoas que você mais ama — desde que você não seja uma mulher.

Vou passar o Natal com minha família pela primeira vez desde que tinha 20 anos, e, agora, na idade madura dos 26, notei algo. Minha mãe vai me chamar para ajudá-la a separar os presentes que comprou ― ela até poderia tentar pedir para o meu pai, mas ele vai suspirar e dizer para ela não se preocupar tanto antes de voltar a assistir futebol. A namorada do meu irmão fez tabelas com as preferências alimentares e as datas de viagem de todos para garantir que fiquem confortáveis ― meu irmão deixou ela cuidar disso. Quanto a mim, estou planejando os presentes desde julho, e nem sei se meu parceiro já percebeu que precisa comprar algo para mim.

O Natal não é relaxante para as mulheres, é um pesadelo logístico que elas precisam enfrentar sozinhas. O sucesso ou o fracasso depende inteiramente delas. Então, é surpreendente que essas comédias românticas natalinas trash existam? Elas vendem para um mercado de mulheres cansadas a fantasia de que um homem pode simplesmente aparecer e ajudá-las.

É uma abordagem estranha, eu sei, mas juro que faz sentido quando você pensa melhor. Isso explica por que os filmes não são nada sensuais ― eles não estão tentando ser 50 Tons de Cinza, mas, sim, uma fuga de 90 minutos para mulheres sobrecarregadas. Pode parecer bobo chamá-los de feministas, mas eles reconhecem as lutas das mulheres e sugerem uma divisão de trabalho mais igualitária.

Não é de se surpreender que sejam de tão baixa qualidade, afinal, a maioria dos produtores executivos e diretores são homens que não pensam nos problemas femininos. As mulheres em questão também não são um grande mercado ― não é como se elas tivessem tempo para ir ao cinema enquanto cuidam dos filhos, da casa e, provavelmente, de um emprego também. Se tiverem sorte, vão conseguir ver uma animação infantil nova. Que sorte.

Quando dei play em Um Amor Feito de Neve, a última coisa que eu esperava era que mudasse minha visão do gênero, mas aqui estamos. Posso não gostar de comédias românticas, mas criei um respeito pelo conforto que estão tentando fornecer. Pense em sua mãe, irmã, parceira e em todas as outras mulheres da sua vida nesta época de festividades. Tente ajudar um pouco, mesmo que seja só para evitar que elas sonhem com um boneco de neve sexy ― porque a verdade é que, se a situação chega a esse ponto, é hora de se preocupar com a saúde mental delas.

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