“A arte nada mais é do que uma dose de sacrifício e lágrimas.”
Quem é Lorne Michaels e o que ele significa para a indústria do entretenimento? Você provavelmente nunca ouviu falar dele, mas esse produtor e escritor canadense é um dos nomes mais influentes da história da TV. Saturday Night, uma comédia dramática — que também serve como uma história de origem — dirigida por Jason Reitman estreou recentemente no Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata, atestando o poder das grandes ideias, mas, acima de tudo, enfatizando o impacto positivo e inesperado que os riscos podem ter em um setor tão intensamente abalado como o da televisão.
O filme nos leva aos minutos que antecederam o primeiro episódio ao vivo do Saturday Night Live (SNL), na fatídica noite de 11 de outubro de 1975. Mal sabiam que, graças ao seu formato inovador e caótico, o programa inspiraria a criação de vários outros, como a série That '70s Show no final da década de 90, e até mesmo uma versão brasileira apresentada por Rafinha Bastos em 2012. A improvisação provou ser um dos ingredientes que consolidaram o programa como uma fonte de entretenimento que proliferou ao longo das décadas desde os anos 70.
Apesar do que viria pela frente, o primeiro episódio do SNL teve uma pré-produção catastrófica. Assim como Coppola com seu Apocalypse Now (1979), Proyas com O Corvo (1994) e Herzog com Fitzcarraldo (1982), Michaels foi capaz de criar tudo que havia imaginado, uma façanha que pode facilmente colocá-lo nesse grupo exclusivo. No filme, vemos um assistente novato se drogando acidentalmente menos de uma hora antes do início das filmagens, artistas brigando no meio dos ensaios e até empresários do ramo aconselhando Lorne e sua equipe a não dar vida ao ambicioso programa. Essa "dramédia" — que, às vezes, fica sombria com algumas notas de suspense — mostra o que realmente significa dar tudo de si pela criação artística.
O programa, que ajudou a impulsionar a carreira de personalidades como Dan Aykroyd, Will Ferrell, Eddie Murphy, Mike Myers, Ben Stiller, Adam Sandler e Robert Downey Jr., ainda é a casa de muitos jovens talentos que sabem o potencial — e o público — que podem alcançar ao mostrar suas habilidades de interpretação por dois ou três minutos, em um sábado à noite, no mítico arranha-céu 30 Rockefeller Plaza, em Nova York. Embora esse ritual seja normalizado hoje em dia — e até se encaixe na ideia do "politicamente incorreto" como, ironicamente, o correto — o programa questionou tudo o que era “novo” no início. Os anos 70 foram uma época revolucionária, com mudanças e batalhas substanciais. Esse sentimento está representado no filme, mesmo que de maneira leve. A intenção de Reitman não era produzir um panfleto político, mas apresentar com sutileza sua postura sobre o assunto.
Ao contrário de outras grandes histórias de origem, Saturday Night não se concentra em mostrar o início do protagonista, que seria Michaels como escritor e apresentador da Rádio CBC; também não aposta em clichês dramáticos chatos focados no passado de cada um dos envolvidos no programa — que, em seu início, tinha muitas pessoas fazendo muitas coisas em todos os lugares o tempo todo; na verdade, o filme foca imediatamente nos momentos anteriores ao início de uma nova era da TV. Por que gostaríamos de saber o que o criador estava pensando dois anos antes quando podemos entender perfeitamente de onde ele vem, o que o motiva e quais suas aspirações com alguns olhares, gestos de personagens e diálogos com a equipe — tudo orquestrado com maestria por Reitman?
Como em toda criação caótica, há obstáculos: alguém sempre vai tentar nos dar uma grande dose de baixa autoestima, nos convencer da tragédia midiática que nosso trabalho pode se tornar ou nos boicotar de todas as maneiras possíveis. Quanto ao filme, os próprios medos das pessoas envolvidas causam o boicote, elas pareciam ignorar no que estavam se metendo; e a incorporação do personagem excêntrico interpretado por Willem Dafoe também cria barreiras. E se Michaels quisesse inspirar esses artistas a improvisar e entender, com métodos não convencionais, que nem tudo precisa ser perfeitamente calculado para entreter o público? A resposta não fica completamente clara, já que a jornada de Lorne nessa hora antes do início da gravação a questiona a cada dois minutos.
Música, paródia, improvisação e criação. A experiência na TV nunca mais foi a mesma depois da noite de 11 de outubro de 1975, quando Michaels, com um grupo de rebeldes, encontrou a receita do sucesso sem os grandes orçamentos e a sensação de controle absoluto que Hollywood, Nova York e quase todas as grandes produtoras têm hoje em dia. Se a lição foi aprendida? Resolver a incerteza está longe de ser simples, mas a inspiração vinda do fato de saber que as grandes ideias sempre prevalecem é a essência de um dos melhores filmes de 2024.
Publicado em 2 DE DEZEMBRO DE 2024, 17hs49 | UTC-GMT -3}
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