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Ainda Estou Aqui é o filme mais impactante que você vai ver este ano

Poucos filmes têm a capacidade de nos transportar para um lugar tão íntimo e doloroso como Ainda Estou Aqui. Ao assisti-lo, senti como se a dor e a força de Eunice, interpretada por Fernanda Torres , trouxessem à tona não apenas uma história de luto, mas também uma reflexão poderosa sobre a resiliência humana e a força feminina em tempos de opressão.

Baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, o filme dirigido por Walter Salles narra a história de Eunice Paiva, esposa de Rubens Paiva, ex-deputado sequestrado e desaparecido durante o regime militar no Brasil. Mas Ainda Estou Aqui vai além de uma narrativa sobre os horrores da ditadura. É uma exploração delicada e profundamente humana de como uma mulher enfrenta a ausência e a constante ameaça em um ambiente onde até os muros da casa são cercados pelo medo.

O que torna o filme ainda mais impactante é a atuação de Fernanda Torres. Ela transita com uma maestria impressionante entre a dona de casa de classe média alta e uma mulher consumida pela dor, mas que nunca perde a força. Em uma cena específica, em que Eunice recebe notícias devastadoras, Torres quase não pronuncia palavras. Seu olhar, sua postura, o modo como segura um simples objeto... tudo isso transmite uma complexidade de emoções que poucas atrizes conseguem alcançar. É o tipo de atuação que deixa os espectadores arrepiados e com lágrimas nos olhos ao mesmo tempo.

E como se isso não fosse o bastante, o filme ainda nos presenteia com uma participação especial de Fernanda Montenegro , interpretando Eunice mais de 40 anos depois. É um encontro de gerações que eleva ainda mais o peso emocional da narrativa, trazendo uma visão madura e reflexiva de uma mulher que viveu as consequências da ditadura, mas nunca esqueceu.

O contexto histórico é um dos pilares do filme, mas o que mais me chamou a atenção foi como Walter Salles conseguiu conectar essa história ao presente. Vivemos tempos em que discursos autoritários ganham força novamente, e Ainda Estou Aqui serve como um lembrete urgente de como o fascismo destrói não apenas indivíduos, mas também famílias, sonhos e direitos. Mais do que uma lição de história, é um alerta — e, para mim, impossível de ignorar.

Do ponto de vista técnico, o filme é uma obra-prima. A fotografia de Adrian Teijido é um espetáculo à parte. Luz e sombra são usadas de maneira simbólica para destacar tanto os momentos de opressão quanto os pequenos lampejos de esperança. Há uma cena, por exemplo, em que a casa dos Paiva, antes um refúgio, está cercada por tanques e soldados. Essa imagem é devastadora e nos lembra de que até o espaço mais seguro pode se tornar uma prisão. A trilha sonora de Warren Ellis também é impecável. Suas notas melancólicas não apenas acompanham, mas também intensificam cada emoção, criando uma conexão quase visceral com o público.

Apesar de toda a dor que permeia a narrativa, Ainda Estou Aqui encontra beleza nos momentos de resistência e afeto. Há uma cena em que Eunice, sozinha em casa, dança ao som de uma música antiga. É um instante breve, quase efêmero, mas que diz tanto sobre a força que encontramos mesmo nos dias mais sombrios. Foi nesse momento que percebi o quanto o filme não é apenas sobre perda, mas também sobre sobrevivência.

O que mais me marcou ao final foi a universalidade da história. Embora esteja enraizado em um contexto brasileiro, Ainda Estou Aqui fala sobre algo que todos podemos entender: o impacto da ausência e a luta para seguir em frente. Essa é uma das grandes virtudes do cinema, não é? Ele consegue nos conectar por meio das emoções, independentemente de onde viemos.

Quando as luzes se acenderam, fiquei refletindo sobre o quanto precisamos de histórias como essa. Não só para lembrar dos erros do passado, mas para honrar aqueles que lutaram, como Eunice, com atitudes grandes e pequenas. Ainda Estou Aqui não é apenas um filme — é uma experiência transformadora, um lembrete de que, mesmo nos momentos mais difíceis, nossa humanidade e resiliência são inquebráveis.

Se você ainda não assistiu, prepare-se. Esse é um daqueles filmes que nos acompanham por dias, nos fazendo questionar, sentir e, acima de tudo, lembrar. Ainda Estou Aqui não é apenas uma obra sobre o passado, mas um grito urgente para o presente.

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