O dia 9 de novembro deste ano marca o 35º aniversário da queda do Muro de Berlim. Para relembrar esse acontecimento que teve um profundo impacto na história mundial e no panorama político atual, o Goethe-Institut realizou diversas exibições de filmes em instituições culturais das principais cidades do mundo. Em algumas delas, os consulados alemães também reexibiram Bornholmer Straße (A Rua Bornholmer), um filme de 2014 que retrata a queda do muro.
Essa comédia romântica destaca-se como uma sátira política envolvente que permite aos espectadores não familiarizados com aquela época compreender o acontecimento em meio a uma atmosfera mais descontraída. A história começa com um cachorrinho cruzando despreocupadamente a rua Bornholmer, o checkpoint mais ao norte entre os sete postos de fronteira ao longo do Muro de Berlim, o que choca os guardas de Berlim Oriental na República Democrática Alemã (mais conhecida como Alemanha Oriental). Assim, essa cena já define o tom cômico de todo o filme.
Ao olhar para o passado, esse acontecimento marcante do final do século XX foi, na verdade, uma comédia de erros inesperados — impulsionada pela burocracia comunista e pelo momento histórico — tal como uma HQ.
Enquanto os guardas perseguem o cachorro, uma conferência de imprensa é exibida ao vivo entre às 18h e 19h do horário televisivo. Günter Schabowski, membro do Politburo do Partido da Unidade Socialista da Alemanha (SED, na sigla em alemão) e primeiro-secretário da liderança distrital do SED em Berlim, anuncia um novo conjunto de regras de passagem de fronteira elaborado pelo Ministério do Interior e pelo Ministério para a Segurança do Estado (Stasi, na abreviatura do nome oficial em alemão). Essa nova disposição estabelece que os alemães orientais podem solicitar a saída do país e circular livremente por todos os checkpoints, mesmo que não cumpram os critérios habituais. A regra estava prevista para entrar em vigor na manhã seguinte. No entanto, Schabowski, que não esteve envolvido nas discussões políticas e está por fora dos detalhes, dá uma olhada em uma nota que lhe foi entregue às pressas por Egon Krenz, o líder interino que substituiu Erich Honecker (o ex-líder da Alemanha Oriental), e afirma a um jornalista do portal de notícias ANSA da Itália que essa regulamentação transfronteiriça agora é incontestável. Quando questionado sobre em que momento ela entrará em vigor, ele hesita antes de responder: "Até onde sei, a lei entra imediatamente em vigor, sem demora".
Não confunda Schabowski com um herói que avançou intencionalmente a história ou transformou a vida dos alemães orientais. Durante o período das Revoluções de 1989, todos os funcionários da Alemanha Oriental sabiam que a história estava prestes a virar uma página, mas ninguém ousou nem quis assumir a responsabilidade. A resposta de Schabowski foi apenas uma manifestação da sua liderança laissez-faire e seu estilo de "deixar fazer". Mas essa declaração improvisada causou um tremendo rebuliço nos checkpoints.
O contexto histórico mais amplo pode ser explorado com profundidade por meio de fontes como o Wikipédia ou documentários exclusivos. A Rua Bornholmer, porém, assume uma perspectiva única, concentrando-se no primeiro checkpoint a ser liberado e no comandante Harald Jäger e em seus subordinados — figuras que costumam ser ignoradas nos relatos enciclopédicos.
Depois de assistirem a TV e ouvirem transmissões de rádio, os moradores de Berlim Oriental começaram a se reunir no checkpoint, chegando lá confusos e de mãos abanando. Eles simplesmente querem conferir a situação com os próprios olhos. Se a travessia fosse realmente possível, eles esperam chegar ao outro lado do muro, vislumbrar o país vizinho e o povo que não viam há 38 anos e depois voltar para casa para dormir. Contudo, de acordo com as regras e o protocolo de trabalho, o comandante Jäger e os guardas de fronteira não têm autorização para permitir a passagem das pessoas sem uma notificação explícita por escrito. Eles devem começar a liberar os viajantes com documentação e passagens válidas somente na manhã seguinte.
Certa vez, eu mesmo enfrentei uma situação constrangedora semelhante. Há onze anos, enquanto viajava pela América Central, tentei percorrer a rota terrestre do sudeste do México até Belize, onde era permitido obter um visto na chegada. Já eram 20h quando cheguei e o escritório de imigração estava fechado, sem ninguém de plantão até as 9h da manhã seguinte. O guarda não tinha autorização para me deixar passar ou esperar dentro do prédio. Assim, tive que passar a noite inteira sentado na calçada.
Seguindo a estrutura narrativa tradicional de conflito e resolução, o filme utiliza a edição paralela para intensificar aos poucos a ansiedade dos guardas, juntamente com a crescente frustração dos cidadãos reunidos. Do outro lado da linha, no prédio da alfândega, há um labirinto burocrático, com guardas passando a responsabilidade para seus superiores. O chefe da alfândega passa a noite em claro, emitindo ordens para manter o controle rígido das fronteiras sem dar instruções concretas, enquanto entra em contato com o chefe do Stasi, Erich Mielke, na esperança de obter alguma orientação oficial.
Entretanto, nunca chegaram instruções claras da liderança. Muitas vezes, momentos históricos decisivos são desencadeados por funcionários justos de baixo escalão que optam por assumir a responsabilidade — para aliviar, apenas um pouco, os protocolos rígidos. Diante do enorme muro que eles ajudaram a construir e manter durante 38 anos, o comandante Jäger finalmente decide arriscar a própria carreira e abrir os portões aos viajantes sem verificar suas identidades.
O filme, centrado nas experiências dos guardas de fronteira, termina em grande parte aqui, sem explorar muito além da área do checkpoint. Historicamente, apenas algumas horas depois, pessoas que se autodenominavam "Mauerspechte" ("pica-paus" do Muro de Berlim) começaram a tirar pedaços do muro, guardando-os como souvenirs, ou a quebrá-lo para criar passagens informais com o auxílio de diversas ferramentas. Com o tempo, o Muro de Berlim acabou desmoronando.
"Temos uma visão de mundo. Por que não podemos ver o mundo?". No filme, uma professora de história do ensino fundamental, ansiosa para visitar a filha em Berlim Ocidental, faz essa pergunta — feita pela primeira vez por um de seus estudantes — para desafiar os guardas de fronteira que anteriormente impunham restrições rigorosas às viagens. Então, como era o mundo ao redor do Muro de Berlim antes e depois da queda? Essa comédia, que destila a história até à sua essência e exagera seus cenários, não consegue responder totalmente à pergunta. Até filmes mais famosos como Adeus, Lenin! ou A Vida dos Outros também não conseguem. São relatos convincentes e até instigantes, mas não são espelhos da história.
Felizmente, além dos momentos cruciais exibidos em imagens de noticiários, alguns cineastas da época documentaram esses acontecimentos, focando suas câmeras em cantos despretensiosos e em pessoas comuns não diretamente envolvidas na derrubada do muro.
No mês passado, o Festival Internacional de Artes Cinematográficas e Documentais de Buenos Aires (FIDBA) apresentou um programa intitulado "35 anos da queda do Muro de Berlim: e agora?" no Cine Teatro York, com a exibição de cinco filmes raros da Alemanha Oriental. A seleção não só retratou o impacto imediato da reunificação alemã, como também ilustrou os novos "muros" — políticos, econômicos ou culturais — que continuam dividindo a sociedade contemporânea.
Em um desses filmes, Adeus, Inverno, a diretora Helke Misselwitz embarca em uma jornada de trem pela Alemanha Oriental antes da reunificação, entrevistando mulheres de diferentes idades e origens.
O curta Tango-Traum, também de Misselwitz, acompanha uma mulher sentada em frente a uma máquina de escrever em seu apartamento em Prenzlauer Berg, ouvindo tango enquanto escreve o roteiro de um filme sobre o gênero musical e sonhos.
Uma das obras mais impactantes do programa foi O Muro, um documentário experimental de Jürgen Böttcher. Da praça Potsdamer Platz ao Portão de Brandemburgo, a câmara capta o momento histórico a partir de várias perspetivas. De um lado, jornalistas e turistas do mundo todo tiram fotografias, crianças vendem pedaços do Muro de Berlim e as pessoas que passam por ali celebram a véspera de Ano Novo em 1989; do outro lado estão estações de metrô abandonadas e guardas com olhares vazios nos rostos.
Unsere Kinder (Our Children) retrata jovens marginalizados da Alemanha Oriental às vésperas da reunificação, incluindo punks, góticos, skinheads e neonazistas. Dois escritores conversam com esses jovens, comparando-os com a juventude da República de Weimar.
Em Verriegelte Zeit (Locked Up Time), a diretora Sibylle Schönemann relembra seu passado: em 1984, ela foi presa após solicitar sua saída do país, e um ano depois mudou-se para a Alemanha Ocidental por meio da anistia. Após a queda do Muro de Berlim, ela regressou à Alemanha Oriental para visitar seu antigo local de trabalho em um estúdio de cinema estatal e a prisão onde estava detida. Ela até entrevistou os agentes do Stasi que a prenderam, o juiz responsável por seu caso e um carcereiro que esteve com ela durante o período de detenção.
Quão diferente era Berlim Ocidental, a cidade para onde Schönemann fugiu, depois de sair de Berlim Oriental, que outrora a oprimiu e aprisionou? No final de A Rua Bornholmer, uma mulher jovem e bonita faz a travessia para "o outro lado" depois que o comandante Jäger levanta o portão e permite a passagem das pessoas. Ela passeia, toma uma cerveja com um jovem de Berlim Ocidental que fala a mesma língua que ela e depois volta para o lugar de onde veio. Parada na portaria do checkpoint, onde seu namorado soldado anteriormente teve que cumprir as restrições de fronteira sob olhares atentos, ela se reconcilia com ele. Depois de um beijo, ela diz: "O Ocidente tem um cheiro ruim".
Isso me lembrou que, certa vez, um amigo escritor conduziu entrevistas detalhadas com um ex-dissidente e um oficial do Stasi que haviam sido colegas de faculdade na Alemanha Oriental, porém, tornaram-se inimigos mais tarde. Meu amigo perguntou ao dissidente, agora mais velho: "Você se arrepende de ter passado os melhores anos da sua vida na Alemanha Oriental?"
"Não, nem um pouco!"
"Mas não havia opressão? Falta de liberdade?", meu amigo retrucou com perplexidade.
"Mas nós éramos jovens naquela época!", respondeu o ex-morador da Alemanha Oriental.
Na verdade, não importa o quanto um sistema seja bom ou o quanto um mundo possa se tornar livre, nada se compara à juventude apaixonada e insubstituível que outrora existiu.
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