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‘O Aprendiz’: O mais polêmico do ano ou uma grande jogada de marketing?

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“De onde veio aquele agente imobiliário milionário que diz apenas cinco palavras em Esqueceram de Mim 2: Perdido em Nova York? Quando eu era criança, foi isso o que me perguntei depois de assistir ao filme. Nunca me interessei muito pela história de vida deste polêmico agente imobiliário que virou político. No entanto, durante o ano eleitoral, o interessante Ali Abbasi deu vida a um poderoso retrato cinematográfico que ataca o conceito de perfeccionismo nos EUA e tenta desmistificar a imagem agradável vendida do famoso criador do slogan MAGA (Make America Great Again).

É curioso notar que, este ano, três filmes dirigidos por diretores não estadunidenses abordaram, de diferentes ângulos, horrores escondidos — e também evidentes — nos Estados Unidos. Primeiro, o britânico Alex Garland lançou sua versão crua e pós-moderna de Apocalipse Now, Guerra Civil. Alguns meses depois, a francesa Carolie Fargeat exibiu a toxicidade da insegurança feminina com o terror corporal A Substância. Agora, o iraniano Ali Abbasi apresenta uma biografia sombria e polêmica que, embora muitos tenham descrito como um pequeno sucesso, provou ser uma força feroz deste tempo — seja para o bem ou para o mal.

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Como dar forma a uma figura famosa, controversa e poderosa como Donald Trump? O Aprendiz é o quarto título da filmografia mais do que interessante de Abbasi e sua aparentemente gloriosa — se podemos chamá-la assim — estreia no universo de Hollywood. O filme se destaca graças a vários aspectos que, juntos, criam uma obra precisamente calculada que nunca se desvia de seu ponto inicial. Desde os primeiros segundos, apresenta com maestria o contexto, assim como Taxi Driver. Testemunhamos uma introdução com luzes neon iluminando todos os tipos de pessoas que vivem em Nova York. É aí, em meio ao caos, que um jovem de terno e um cabelo que parece uma peruca hollywoodiana aparece. Ele anda sem pressa, mas com uma postura determinada e um olhar ambicioso. Seu destino? Le Club, um centro de reuniões para as pessoas mais ricas e famosas da cidade. Trump — que queria se tornar independente do pai e trilhar seu caminho entre as pessoas mais importantes do mercado imobiliário e político — é imediatamente seduzido pelos olhos penetrantes de alguém que o observa com certo entusiasmo e interesse.

A figura, o poder adquirido e a reputação sentidos nos olhos de Trump após os créditos finais são moldados graças à apresentação antecipada do segundo personagem mais importante: o advogado e solucionador de problemas políticos Roy Cohn. Interpretado pelo subestimado Jeremy Strong (Succession, A Grande Aposta), Cohn faz negócios duvidosos diariamente em seu “escritório” repleto de jovens aspirantes, mas também é caloroso e gentil. É ele quem vê em Trump a oportunidade de inovar no mercado imobiliário e de ser um rosto que representa esperança de um futuro melhor. Aparentemente, em termos audiovisuais, tudo que reluz é ouro, mas minha intenção principal não é elogiar o filme por seus inegáveis aspectos positivos — pois é uma obra cinematográfica simplesmente espetacular — mas tentar analisar qual é o objetivo de lançar essa obra em particular, justamente neste momento da história estadunidense.

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Quão real e quão falso é o filme biográfico de Donald Trump? Não é possível determinar com certeza, pois a natureza da verdade no cenário político é geralmente difusa e tende quase sempre aos extremos: todos são o pior ou o melhor tipo de ser humano. Se analisarmos os fatos, de acordo com a perspectiva de Abbasi — e sua própria reinterpretação do material que usou para dar vida ao filme — desde o início, Donald Trump era um misógino, manipulador, ganancioso, narcisista e mentiroso compulsivo, que se aproveitava das pessoas e que só queria se destacar como uma figura renomada entre os jovens mais poderosos do país. Então, por que ele tem um número tão grande de seguidores e apoio em sua atual candidatura presidencial? O que isso diz sobre a cultura e os valores estadunidenses?

Na minha opinião, absolutamente nada. Eu não conheço Donald Trump, nem quem ele era antes. Eu não sei quem ele é além do que vejo na TV e nas redes sociais — das quais desconfio completamente — e não sabia nada sobre seu passado até assistir ao filme. Tenho que acreditar na verdade de Abbasi ou tirar minhas próprias conclusões investigando aqui e ali? Em duas semanas, os Estados Unidos definirão seu próximo presidente e o filme e Ali Abbasi apenas aprofunda a eterna fissura entre direita e esquerda a nível mundial. O consenso existirá um dia? Estamos condenados a viver dessa maneira pelo resto de nossas vidas?

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Par aqueles que não assistem filmes apenas com o olhar político — como eu faço — esta será uma obra completa e bem orquestrada. Apesar de todas as atuações incríveis, Sebastian Stan é quem rouba a cena, incorporando o próprio diabo em pessoa, um ser desprezível que não tem medo de deixar morrer aqueles que o ajudaram no início. Na minha opinião, embora pareça uma produção focada no Oscar, ao assisti-lo, não sinto que seja.

Com um senso de humor ácido, uma estética que se adapta de maneira impecável às épocas distintas e a direção de Abbasi, o filme traz vida a uma dessas experiências incomuns e anacrônicas — no melhor sentido da palavra — que revivem o espírito do cinema menos comercial e mais direto, que é o cinema que quer mexer com o espectador. Ainda não tenho certeza de quem Trump é, mas, graças a O Aprendiz, posso dizer que quero saber mais sobre ele.


Escrito por JERÓNIMO CASCO

Publicado em 31 DE OUTUBRO DE 2024, 02hs21 | UTC-GMT -3


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