CRÍTICA - É APENAS UM ADEUS

Há muitos momentos de "calma" que permeiam os 64 minutos de "É apenas Um Adeus" (Ce n'est qu'un au revoir), o novo documentário de Guillaume Brac, que retrata um período das vidas em comum de um grupo de jovens em um colégio interno no sudeste da França. Em breve, eles completarão seus estudos e terão que se separar, seguindo suas vidas em diferentes direções, que invariavelmente os levarão ao status derradeiro de "adulto". O filme acompanha o dia-a-dia desses jovens, focando em especial em Aurore, Nours, Jeanne, Diane, cujas entrevistas proporcionam uma narração para as imagens corriqueiras. Então, enquanto nós observamos esses estudantes em meio a danças, brincadeiras, sermões de adultos e debates em sala de aula, os relatos desses quatro oferecem um contexto e uma espécie de linha narrativa.

Para quem passou por coisas parecidas - e muitos de nós tivemos nossa versão desse momento de transição entre o adolescente e o jovem adulto - essa "calma" pode parecer estranha. Geralmente, é o contrário. É um período mais caracetrizado por ser confuso e tempestuoso em comparação com a inocência e inconsequência do que veio antes. Então a certeza e assertividade com que esses quatro jovens falam de si mesmos pode parecer um pouco artificial. Talvez seja uma coisa de geração. Conversando com gente dessa idade hoje, eles parecem mais conectados com si mesmos e com a realidade ao seu redor do que eu era. Mas ainda assim, quando uma das jovens fala da perda da irmã e de como ela se vê preenchendo o vácuo que ela deixou, ou quando outra assume uma responsabilidade por ter impossibilitado a vida itinerante do pai, minha primeira reação foi pensar "gente, sosseguem", vocês não tem idade pra esse tipo de determinismo".

Mas aí eu lembrei que isso é um documentário, e que a câmera altera tudo o que vê. Me veio a dúvida se o peso de estarem serem gravados alterou as indagações naturais que ocorreriam a esses personagens. Talvez eles tenham antecipado um pouco mais o pesar de dizer adeus para os amigos da escola e das mudanças e desafios que viriam a seguir. E, quando numa cena, um trio de garotas discute as faculdades e carreiras que irão seguir e prometem se encontrar anualmente para não perder a amizade, talvez a promessa tenha sido um pouco mais teatral, ainda que verdadeira.

Mesmo assim, a câmera de Guillaume Brac tenta oferecer um olhar bem naturalista. Tudo que vemos são esses jovens em seus pequenos rituais de passagem. A única trilha sonora é da música que eles mesmo ouvem ou fazem. Com exceção dos monetos finais, quando o filme escolhe embalar a despedida deles com a canção The Valleys, da banda Electrelane. A letra da canção adapta os versos de um antigo poema anti-guerra de Siegfried Sassoon, em que ele fala a um amigo sobre a saudade que sente de seu tempo juntos numa época mais feliz, e de um outro amigo em comum que ambos perderam em combate. É uma canção sobre ser jovem e já ter nostalgia. Encaixa bem.

Comentários 2
Bombando
Novo
comments

Compartilhe sua opinião!

Seja a primeira pessoa a iniciar uma conversa.

7
comment
2
favorite
1
share
report