26 de agosto marca o 30º aniversário do lançamento de "Assassinos por Natureza" na América do Norte. Com a virada do século, a tecnologia evoluiu e a mídia passou por mudanças significativas. O número de canais de televisão criticados nesse filme bastante controverso já diminuiu há bastante tempo, juntamente com outros meios de comunicação tradicionais, como jornais e rádios, dando lugar às transmissões pessoais constantes, difundidas por meio das redes sociais. Não existe mais autoridade reguladora; todo mundo é um meio de comunicação. À medida que a exibição e disseminação de eventos violentos foram facilitadas, o mundo tornou-se mais brutal e caótico. Cada assassinato indiscriminado ou tiroteio em massa que testemunhamos através das redes sociais me lembra o clássico filme de Oliver Stone, de 1994, e seu casal de supervilões que mata sem nenhum escrúpulo. É claro que, em um filme de ficção, eles podem ser interessantes, mas na realidade, é melhor que esses assassinos arbitrários não existam.
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Lembro que assisti a "Assassinos por Natureza" pela primeira vez no meu dormitório da faculdade. As cenas em que os assassinos fazem uma "roleta-russa", miram e atiram em um ciclista durante sua fuga em um carro e derrotam a polícia apareceram nas telas de nossos computadores e chocaram espectadores novatos como eu. Um colega de classe sério e inteligente ficou furioso, exclamando: "Como pode!?". A visão de mundo que ele tinha foi completamente corrompida. Outro cara brincalhão se entusiasmou e disse: "Incrível! Isso é romantismo revolucionário", ao conhecer um mundo totalmente novo e irreal de contos de fadas para adultos.
O casal formado por Mickey e Mallory Knox se casa em Las Vegas. Parados em uma ponte que atravessa o Grand Canyon, eles pegam uma faca e fazem um pacto de sangue. Na verdade, isso pode ser uma forma de romantismo revolucionário, mas a posterior fuga e matança são apenas o exagero deliberado do filme sobre um "romance alternativo". Além disso, ele carrega uma forte crítica da mídia ao antirromantismo. São os meios de comunicação, ávidos por notícias sensacionalistas, e o público, ávido por sexo e sangue, que alimentam esses assassinatos romantizados.
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Você se lembra da primeira cena, na qual acontece o massacre em um fast-food? Depois de responder ao assédio sexual de Mallory por um policial com um tiro — exatamente quando o público espera uma história de punição do mal e vingança — esse casal sedento por sangue faz uma "roleta-russa" no restaurante. A feroz canção "Shitlist" da icônica banda grunge L7 começa a tocar, e sua letra ecoa perfeitamente os assassinatos aleatórios e brutais do casal: "Quando fico bravo e chateado, pego minha caneta e escrevo uma lista de todas as pessoas que não farão falta. Você entrou na minha lista, seu m*rda". Juliette Lewis, que interpretou a personagem maluca de Mallory, mais tarde se tornou uma cantora de rock ainda mais desinibida, formando uma banda chamada "Juliette and the Licks". Ao abraçar o estilo destrutivo do grunge, ela correu e gritou descontroladamente no palco, liberando a raiva que precisou ser controlada no filme.
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Lewis teve uma juventude rebelde: foi presa aos 16 anos por entrar ilegalmente em um bar. Woody Harrelson, que interpretou seu companheiro em "Assassinos por Natureza", foi criado em meio ao crime no Texas. Seu pai, Charles Harrelson, era um assassino profissional legítimo que trabalhava para organizações criminosas. O roteiro de "Assassinos por Natureza", escrito por Stone com contribuições de Quentin Tarantino e outros roteiristas, elaborou o histórico do casal de assassinos que inclui famílias violentas e infâncias infelizes marcadas por agressões e até mesmo abusos sexuais. Naturalmente, esse histórico fornece a motivação para que eles busquem vingança da sociedade de uma maneira doentia, semelhante a um jogo sangrento.
Ao assistirmos a "Assassinos por Natureza" enquanto alunos, ficamos impressionados com o impacto do filme e, de maneira superficial, presumimos que o filme glorificava a matança, sem compreender a crítica implícita dos criadores. Ao assisti-lo novamente mais maduros, as críticas logo tornam-se evidentes para nós e mal encontramos qualquer retórica artística, como visto no homem sem cabeça do programa de TV "American Maniacs". A violência e a fuga do casal de assassinos atraem a mídia igualmente sanguinária. Os produtores do programa traçam às pressas um plano para que o apresentador Wayne Gale, interpretado por Robert Downey Jr., acompanhe e investigue o casal, transformando os acontecimentos em um drama emocionante.
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O filme estreou em 26 de agosto de 1994. Contudo, em 17 de junho do mesmo ano, o público norte-americano já havia testemunhado seu "trailer da vida real" por meio de uma transmissão ao vivo. Naquela época, a polícia estadual da Califórnia estava perseguindo o astro do rugby O.J. Simpson, suspeito de assassinar a esposa e um amigo dela. Os canais de televisão usaram helicópteros para acompanhar a perseguição aérea pela rodovia, e essa transmissão ao vivo obteve a maior audiência na história dos noticiários da TV dos Estados Unidos.
Os cinéfilos costumam dizer que "Assassinos por Natureza" é inspirado no clássico de 1967 da Nova Hollywood, "Bonnie e Clyde". Nesse filme, os personagens principais, Bonnie Parker e Clyde Barrow, reúnem outros parceiros para formar uma gangue que acaba sendo derrotada pela polícia. Em "Assassinos por Natureza", influenciado pelo casal de assassinos Mickey e Mallory, Wayne se envolve em um motim na prisão e sente uma emoção inexplicável ao matar. Ele fantasia em se tornar um parceiro próximo e ajudante do casal ou, na pior das hipóteses, sobreviver para contar a própria história. Ele questiona: "Espere aí! Mickey e Mallory sempre deixam uma pessoa viva para contar a história, certo?"
"Nós somos sua câmera", respondem os assassinos.
As falas de Mickey durante uma entrevista anterior com Wayne podem ser encaradas como a visão extremamente negativa de Stone sobre a mídia contemporânea, que ele critica por sempre promover o medo.
"Você nunca irá entender, Wayne. Você e eu nem somos da mesma espécie. Eu era você, depois evoluí. De onde você está, você é um homem. De onde estou, você é um macaco. Você nem é um macaco. Você é uma pessoa da mídia. A mídia é como o clima, só que é um clima criado pelo homem. Assassinato? É puro. Foi você quem o tornou impuro. Você está comprando e vendendo medo."
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Após o lançamento de "Assassinos por Natureza", veio a era dos DVDs, facilitando a criação de trabalhos pessoais. Certa vez, um amigo documentarista voltou à sua cidade natal para filmar uma gangue local coletando dinheiro para extorsão. O que deveria ser uma rotina se transformou em uma demonstração de brutalidade exagerada porque a presença da câmera deixou os bandidos de baixo escalão ansiosos para mostrar o quanto eles poderiam ser perversos. Isso resultou no espancamento de lojistas. À medida que os smartphones se tornaram mais portáteis e mais fáceis de serem usados para gravações, o mesmo desejo de atuar diante das câmeras, principalmente entre os adolescentes que ainda não haviam desenvolvido um senso claro de certo e errado, alimentou significativamente os incidentes de bullying nas escolas.
Podemos dizer que Mickey e Mallory, os "assassinos por natureza", teriam um impacto negativo sobre os jovens inexperientes e inconscientes das críticas do filme à mídia? Acredito que não, porque a influência dos filmes e dos meios de comunicação tradicionais tem diminuído, principalmente na era atual, em que os drones podem facilmente se infiltrar nas guerras em tempo real.
Do Massacre de Columbine em 1999 aos Atentados na Noruega em 2011, do tiroteio no festival Route 91 Harvest de Las Vegas em 2017 aos Atentados na Mesquita de Christchurch em 2019, notamos que esses assassinos em massa mais insolentes são influenciados fortemente por fórums da Internet. Eles até podem estar revoltados com a sociedade, mas muitas vezes optam por transmitir suas matanças como se estivessem em jogos online.
Pensando em "Assassinos por Natureza" e seu casal de supervilões de 30 anos atrás, quantos criminosos da vida real já assistiram ao filme ou ouviram falar sobre os personagens?
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