“Xógun”: um épico imperdível

Embora costuma-se dizer que “a arte não conhece fronteiras”, são comuns casos de choques culturais em produções cinematográficas e televisivas. Quando diferentes culturas chegam às mãos de criadores de outros países, várias deficiências são perceptíveis, os famosos estereótipos – e isso já foi bem comum em Hollywood.

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A boa notícia é que tem havido um declínio gradual nessas produções: os estúdios vem se esforçando cada vez mais para se alinhar estreitamente com a essência cultural exigida pelas obras. E a melhor parte é que elas estão conseguindo!

Coincidentemente, este ano vimos duas obras hollywoodianas relacionadas com a cultura asiática, ambas do Japão: Tokyo Vice, da HBO, e a ambiciosa Xógun: A Gloriosa Saga do Japão, do Disney+.

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Antes de mergulhar na série, vamos analisar os pontos críticos. O que exatamente é “Xógun”? Abreviação de "Sei-i Taishōgun", refere-se às figuras políticas e militares do Japão dos séculos XXII a XIX que detinham liderança e poderes governamentais. A mais alta autoridade de comando na época era chamada de "xogunato", supervisionada diretamente pelo "Sei-i Taishōgun". Devido à crença da época de que o Imperador era divino, a família imperial, que se acreditava ter o "sangue dos deuses", detinha o status mais elevado. O Xogum era nomeado pelo Imperador, criando uma exceção histórica onde um imenso poder coexistiu, mas nunca foi derrubado. Os samurais, recompensados por sua lealdade, controlavam indiretamente o país.

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Quais são as referências dos protagonistas, Yoshii Toranaga e John Blackthorne? Tokugawa Ieyasu, Oda Nobunaga e Toyotomi Hideyoshi, conhecidos coletivamente como os "Três Grandes Unificadores do Japão", desempenharam papéis fundamentais – Tokugawa estabeleceu o xogunato Edo, que durou mais de 260 anos. O outro protagonista, o marinheiro britânico John Blackthorne, é uma invenção baseada no primeiro samurai estrangeiro sob o comando de Tokugawa, Miura Anjin (William Adams).

Os elementos religiosos ocidentais retratados na história são aceitáveis? O cenário da série é 1600, em meio ao “período Sengoku”. Os portugueses foram os primeiros europeus a pisar no Japão, introduzindo o comércio transoceânico e a fé católica dos jesuítas, portanto o cristianismo, no país. Ao mesmo tempo, os conflitos religiosos entre o catolicismo e o protestantismo na Europa influenciaram naturalmente a paisagem do período Sengoku.

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Qual é o contexto histórico que prepara o cenário? Tokugawa e Oda se aliaram na juventude, mas isso se dissolveu por vários motivos. Após a morte de Oda, Toyotomi assumiu sua influência e rapidamente ascendeu ao poder. Devido às circunstâncias, Tokugawa submeteu-se a Toyotomi, sendo designado para a região de Kantō. Porém, sua distância do clã Toyotomi permitiu-lhe desenvolver seu poder, tornando-se uma força significativa. Toyotomi, desconfiando da influência de Tokugawa, convocou vários senhores poderosos, incluindo Tokugawa, para formar o Conselho dos Cinco Anciãos antes de sua morte, na esperança de equilibrar o poder e ajudar seu filho. A série começa neste cenário, retratando as lutas pelo poder após a morte de Toyotomi.

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“Muitas produções televisivas de grande porte têm falhas, mas Xógun é uma verdadeira obra-prima”, elogia a revista “Time”. Na verdade, desde a sua estreia, a série recebeu elogios de quase todos os sites da área.

É claro que alguns meios de comunicação lamentaram o desenvolvimento da série – curiosamente, suas críticas variam. No entanto, independente disso, é pouco provável que o público negue sua excelência em roteiro, pós-produção e atuações. Quer sua preferência se incline para o enredo principal ou para a subtrama romântica, diferentes pontos de vista certamente produzirão experiências variadas.

Antes de sua estreia houve inúmeras comparações entre Xógun e Game of Thrones. Com tal promoção, ficou evidente a ambição dos produtores, bem como sua confiança na qualidade da série. Em entrevistas, eles expressaram sua determinação em criar uma lenda de samurai diferente de tudo que Hollywood já viu.

Como espectadores, é interessante testemunhar uma produção hollywoodiana contando uma história oriental ambientada no Japão e ganhando rapidamente o reconhecimento do público tanto ocidental quanto japonês. Baseada no livro homônimo de James Clavell de 1975, a história já havia sido adaptada em 1980 – uma adaptação que apareceu nos formatos de minissérie e de filme.

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Ela foi protagonizada pelo lendário ator japonês Toshiro Mifune e ganhou vários prêmios importantes, incluindo o Globo de Ouro e o Emmy; no entanto, precisou de ajuda para fugir da perspectiva da “interpretação ocidental”. De acordo com a “Variety”, o público americano não estava acostumado a ler legendas, então elas não apareciam nem mesmo durante as cenas em japonês.

A mais recente, porém, está se esforçando para resolver as deficiências da antecessora. A equipe de redatores é composta predominantemente por asiáticos; eles contaram com a experiência de Mako Kamitsuna, escritor, editor e diretor americano que cresceu em Hiroshima, como consultor – ele fez ajustes no roteiro para oferecer uma perspectiva narrativa mais diversificada. A série recrutou atores que falam japonês e contratou um staff predominantemente japonês para garantir a precisão histórica na representação.

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Xógun é composta por dez episódios em sua primeira temporada, com atores renomados como Hiroyuki Sanada, Anna Sawai, Tadanobu Asano e Fumi Nikaido. Com apenas dois episódios, a série já conseguiu dissipar os estereótipos típicos japoneses que os espectadores viram recentemente em House of Ninjas da Netflix. Até mesmo Tokyo Vice levou uma temporada inteira para conseguir o reconhecimento da mídia e do público japoneses.

Em contraste com Tokyo Vice, que foi inteiramente gravada em Tóquio, Xógun passou longe do Japão! Para evitar uma sensação de distanciamento em produções ocidentais que retratam histórias orientais, a equipe fez um esforço tremendo na cenografia e nos figurinos. Eles investiram pesado na construção de locais nas montanhas perto de Vancouver, trabalhando com consultores japoneses e funcionários canadenses. Cenários mais elaborados – como o interior do Castelo de Osaka, jardins e barcos de pesca encalhados – foram meticulosamente construídos para recriar fielmente o Japão do período Sengoku em 1600 da forma mais realista possível.

Todos os figurinos foram feitos à mão, com suporte técnico de uma equipe japonesa familiarizada com o cenário histórico. Os estilistas diferenciaram os trajes com base em cores e estampas para plebeus, cidadãos de Edo e Osaka, nobres e comandantes; cada comandante tinha seu próprio esquema de cores e muitos adereços vieram de Quioto.

Como uma série histórica de guerra, as cenas de ação naturalmente ocupam o centro do palco. Eles recrutaram uma equipe com 25 anos de experiência em artes marciais japonesas, com orientação de especialistas para garantir que as sequências de combate refletissem autenticamente as lutas tradicionais da época, alcançando a perfeição. Essa atenção aos detalhes rompe com as tentativas anteriores de produções com temática japonesa, evitando a sensação de imitação.

O pano de fundo da série é um período turbulento de lutas pelo poder à beira de uma guerra civil. Com o falecimento do Xógun, vários senhores feudais, ou samurais, disputavam a cobiçada posição; ao mesmo tempo, o influente líder Yoshii Toranaga se encontrava na mira. Enquanto isso, um misterioso navio europeu fica encalhado em uma vila de pescadores japonesa, onde o marinheiro britânico Blackthorne cruza inesperadamente o caminho de Yoshii, trazendo consigo segredos que podem alterar o curso da história.

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Combinando elementos da história japonesa com ficção, a série se desenrola como um sangrento épico de samurai repleto de intrigas políticas e confrontos culturais. Através do personagem Yoshii, os espectadores vislumbram sua astúcia e estoicismo, conforme retratado em registros históricos. Sua personalidade multifacetada, juntamente com a narrativa da era do xogunato apresentada a partir de perspectivas ocidentais e japonesas, cria uma ampla intriga.

A série cativa o público com sua recriação fiel de cenários autênticos e cenas de guerra brutais. Mesmo que não esteja familiarizado com esse período da história japonesa, você não precisa se preocupar – funciona como uma saga épica de história, guerra, política e romance. Após 44 anos, Xógun retorna triunfante, convidando os espectadores a embarcarem novamente em sua jornada lendária!

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