O Exorcista do Papa: a origem de um padre super-herói

Ele ocupa o cargo de exorcista chefe do Vaticano, sendo diretamente subordinado ao próprio Papa. Sua missão o leva para a Espanha, onde está determinado a resgatar uma família de três órfãos e uma recém-viúva; todos vítimas de possessão demoníaca. Embora inicialmente a sinopse de O Exorcista do Papa possa evocar temas famosos nos filmes tradicionais de exorcismo, seria um erro classificá-lo assim. Esse filme transcende as convenções de um simples exorcismo ou de filmes de terror convencionais. Em vez disso, ele parece mais um thriller policial ou até mesmo uma história de super-heróis. Em termos mais simples, se você acha que Russell Crowe ficou bastante elegante ao se vestir como um clérigo católico, provavelmente se encantará por essa extraordinária experiência cinematográfica.

Introdução ao filme O Exorcista do Papa

Segundo a doutrina católica, 200 anjos caídos desceram ao mundo humano, transformando-se em demônios e escondendo-se em lugares fora do olhar de Deus. Infelizmente, esse destino atingiu Julia e sua família após perder o marido. Ela e os filhos embarcaram em uma viagem pelo oceano até a Espanha e foram morar em um mosteiro que há muito tempo fazia parte da herança do marido. No entanto, ao chegarem, o filho mais novo de Julia, Henry, passou por uma transformação surpreendente. Ele começou a se machucar e a proferir palavras profanas. Apesar da família tentar várias intervenções médicas sem sucesso, o exorcista chefe do Vaticano, o Padre Amorth encarou a situação de outra maneira. Ao fazer isso, ele descobriu uma maldade mais profunda que assombrava Henry, que sugeria uma conspiração maior e possuía uma familiaridade perturbadora com o próprio corpo de Amorth. Essas revelações sugeriram pecados ocultos e segredos obscuros do passado, podendo até mesmo representar uma ameaça para o mundo inteiro.

O retrato do Padre Amorth por Crowe se inclina mais para um super-herói austero

O Exorcista do Papa se destaca da fórmula típica dos filmes de exorcismo. Em um filme de exorcismo convencional, seria de esperar que indivíduos inocentes fossem vítimas de possessão demoníaca sem saberem, levando a uma série de acontecimentos inexplicáveis. Esses eventos podem incluir cruzes domésticas misteriosamente invertidas, armários que abrem sozinhos, louças que flutuam no ar e até mesmo o espetáculo perturbador da cabeça de uma jovem que gira 180º enquanto expele vários fluidos coloridos. Em seguida, aparece um sacerdote, que, após recitar inúmeras vezes a oração da Ave Maria, acaba expulsando o demônio. Ou então, o padre pode entrar em uma luta mortal com o demônio. Essas narrativas familiares foram recontadas diversas vezes. Contudo, o filme desvia-se desse caminho já trilhado, oferecendo um retrato mais resiliente e formidável.

Desde a primeira cena com o Padre Amorth, interpretado por Russell Crowe, a intenção do filme fica mais perceptível. Um estranho chega a uma cidadezinha sob o manto da escuridão. Vestido com um traje todo preto e um chapéu que esconde seu rosto, ele entra em uma sala com a cabeça baixa. À medida que a câmera aumenta rapidamente o zoom, ele tira o chapéu com delicadeza, revelando o rosto conhecido de Russell Crowe. Seu queixo se ergue, ele fixa os olhos para frente, e surge uma pergunta: quem é essa figura enigmática? Esse tipo de abertura não é comum para um filme tradicional de exorcismo. Essa introdução deliberada e heróica está mais associada a filmes de investigação criminal com detetives audazes (como, Máquina Mortífera) ou à grandeza dos filmes de super-heróis. De fato, O Exorcista do Papa tem uma semelhança com esses dois gêneros cinematográficos.

A fórmula clássica do enredo de um mocinho que se torna alvo de um bandido, acompanhada pelo bandido que tortura o mocinho e o posterior aparecimento do herói que derrota o vilão com grande esforço, tem apelo universal. Em filmes de ação típicos, a ênfase é colocada no "esforço" do herói no confronto final, semelhante ao gênero das artes marciais. Por outro lado, nos filmes de terror, o foco muda para a anterior "tortura dos mocinhos". Por exemplo, em A Hora do Pesadelo, o foco principal está no tormento infligido aos protagonistas. O público testemunha como Freddy, um íncubo, manipula e finalmente despacha cada vítima vulnerável. Entretanto, é importante notar que o título de O Exorcista do Papa sugere que se trata de um filme de exorcismo, o que não é totalmente verdade. Embora você testemunhe o jovem Henry, a mãe Julia e a filha mais velha Amy passando por provações nas mãos de demônios, essas sequências são insuficientes para a premissa do filme. É preciso destacar que essas cenas de tortura são clichês, carecem de um impacto horripilante ou chocante e não introduzem nada de inovador nem mesmo de elementos de susto.

O foco central desse filme reside diretamente na interpretação de Russell Crowe do Padre Amorth, um padre do Vaticano com três décadas de prática de exorcismo na vida real. Para aumentar a autenticidade, o filme não mede esforços na hora de retratá-lo com precisão ao mesmo tempo que incorpora alguns ajustes. É preciso um cuidado especial para capturar as facetas mais interessantes do personagem, dando a chance para que Russell Crowe brilhe. Nas telonas, o Padre Amorth é retratado como alguém que adora compartilhar piadas. Ele sente prazer em fazer os outros rirem e usa o humor como ferramenta para criticar o rígido sistema católico. Claramente, ele não se enquadra na imagem estereotipada de um padre austero. Antes de iniciar suas funções, ele procura um momento privado para desfrutar de alguns goles de uísque e não se esquiva de fazer comentários irreverentes na companhia de bispos seniores. No entanto, esse padre carismático, que muitas vezes lembra o "Tony Stark sem mulheres", abriga um trauma secreto, semelhante aos conflitos internos do personagem da Marvel. Seus adversários procuram explorar essas vulnerabilidades como armas contra ele.

Em O Exorcista do Papa, torna-se evidente que Amorth lembra Tony Stark de Homem de Ferro, compartilha semelhanças com o personagem de Mel Gibson, Riggs, em Máquina Mortífera e exala um charme extravagante semelhante ao de Eddie Murphy em Um Tira da Pesada. Ele incorpora o arquétipo de herói imperfeito encontrado nos filmes clássicos de detetives policiais e de super-heróis, sempre em desacordo com o sistema, enquanto prioriza o caso e o bem-estar da vítima. Amorth se relaciona com os adversários de maneira astuta, provocando-os e despachando-os sem se envolver em confrontos diretos. Inicialmente distante dos amigos, seus relacionamentos evoluem para vínculos firmes, marcados por experiências compartilhadas de vida e morte. No filme, a busca do Padre Amorth para descobrir o nome do diabo para o exorcismo torna-se o centro das atenções. Contudo, enquanto a revelação final o aguarda, o filme dedica predominantemente o tempo à elaboração de um retrato convincente do Padre Amorth, em vez de se concentrar apenas em assustar o público.

O Exorcista do Papa serve como uma história de origem para o Padre Amorth, investigando sua infância e suas experiências. Ele fornece uma exploração abrangente do departamento de exorcismo do Vaticano, incluindo o início histórico, a missão abrangente e os desafios atuais. Além disso, o filme examina intrinsecamente a dinâmica interpessoal do Padre Amorth dentro da organização, semelhante às introduções frequentemente vistas nas narrativas de The Avengers - Os Vingadores e Agentes da S.H.I.E.L.D. da Marvel. Além disso, o filme dedica considerável atenção à elucidação do personagem. Ele retrata sua propensão ao humor, sua escolha única de transporte (uma Vespa visivelmente menor que sua estatura) e seu hábito inabalável de assumir a liderança com o distintivo sagrado nas mãos. O filme investiga as técnicas características do padre, sua filosofia pessoal sobre exorcismo, suas convicções firmes e seu discernimento entre casos genuínos de possessão e aqueles que sofrem de transtornos mentais. Por meio dessa experiência cinematográfica, o público obtém uma visão da personalidade do Padre Amorth, semelhante a um cavaleiro Templário moderno.

A decisão de escalar Liam Neeson para cenas de ação em Busca Implacável não foi baseada principalmente em sua experiência anterior como boxeador, embora tenha contribuído para suas habilidades físicas para o papel. O fator crucial foi a capacidade de Neeson de transmitir as falas para a câmera de maneira convincente.

“Eu vou te procurar, vou te encontrar e vou te matar.”

Na verdade, a intensidade e a determinação demonstradas por atores como Liam Neeson vão além do que os indivíduos comuns normalmente conseguem invocar. Bob Odenkirk, conhecido por interpretar personagens menos triunfantes, assume sem esforço o papel de um fracassado Anônimo. Quanto a Russell Crowe assumindo o papel de exorcista, é importante notar que ele possui as qualidades exigidas. Apesar de não depender de proezas nas artes marciais como o Krav Maga, a essência do personagem reside em um espírito indomável, que o ator exala com sua presença imponente, voz ressonante e uma mudança repentina para um comportamento brincalhão e travesso. O método do exorcista depende de vigor puro e, sem dúvida, Russell Crowe possui essa característica em abundância.

Concluindo, O Exorcista do Papa revela a história da origem do Padre Amorth, retratando-o como um herói imperfeito que exerce um poder extraordinário.

O público que está esperando ficar aterrorizado com o filme pode se desapontar. Por outro lado, quem aprecia personagens heróicos carismáticos, porém imperfeitos, e quem aprecia aventuras de detetive provavelmente vão gostar muito da história. Russell Crowe assume um papel de comando, retratando um indivíduo aparentemente cínico que marcha no próprio ritmo dentro do solene Vaticano. Ele desenterra uma história sombria e há muito tempo enterrada, perseguindo e expondo incansavelmente um escândalo, levando a um confronto emocionante com o diabo. Embora a atuação do ator possa não ser digna de um Oscar, ela remonta a seus papéis memoráveis em filmes como Os Indomáveis e Rede de Mentiras. É seguro dizer que Crowe em O Exorcista do Papa se equipara a Liam Neeson em Busca Implacável, dando nova vida à sua carreira e rejuvenescendo-a em pelo menos uma década.

O Exorcista do Papa não apenas apresenta ao público a origem do Padre Amorth, mas também será a origem de uma série de filmes — o que o torna mais parecido com um filme de super-herói. O filme tem potencial para ser amado pelo público, com base na atuação brilhante de Russell Crowe (como Fúria Incontrolável provou em 2020) e com base nos demônios do mundo que nunca serão eliminados. Além disso, assim como no lançamento de Busca Implacável em 2008, ninguém pensava que atores mais velhos poderiam interpretar detetives exorcistas ou interpretar heróis sem praticarem incansavelmente. Podemos dizer que O Exorcista do Papa acaba de se aventurar em um mercado novo e relativamente pouco competitivo.

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