undefined_peliplat

Arcane: O poder da paixão

Se você tivesse me dito há uma semana que eu assistiria uma série de League of Legends e gostaria tanto que até assistiria um documentário sobre como ela foi feita, eu riria da sua cara – mas essa é a magia de Arcane. Com tantas críticas positivas, não sei porque demorei tanto e, sinceramente, quase parei depois dos primeiros minutos por causa de um personagem particularmente irritante. Independente disso, se precisa de uma prova de que a “maldição da série de videogame” não é real, Arcane é o exemplo perfeito do que se pode criar quando as mentes por trás estão realmente apaixonadas.

Ao assistir um filme ou uma série, me preocupo mais com a história do que com qualquer outra coisa, e Arcane entrega uma ótima graças ao desejo de perfeição da Riot. O programa começou com um orçamento de US$ 2.000 e, aos poucos, conseguiu mais e mais recursos até que um piloto foi produzido, mas os chefões suspenderam o projeto porque “não tinham uma história ainda”. Por causa do tempo e do dinheiro investidos, não só pela Riot mas também pelo seu estúdio de animação, o Fortiche, que tinha acabado de contratar 70 novas pessoas para o projeto, foi uma jogada devastadora, mas que claramente valeu a pena. Como alguém que só sabia sobre o jogo porque seu parceiro jogava e cujo conhecimento se limitava à existência da Jinx (a quem fui comparada, o que agora percebo que não foi um elogio…), os criadores fizeram um trabalho fantástico ao tornar a série divertida para os novatos. Uma das minhas análises favoritas sobre por que a história de Arcane funciona tão bem é que todos os personagens principais têm hamartias, termo grego para falhas trágicas, traços de personalidade inerentes que, apesar de serem neutros ou mesmo nobres, acabam levando à sua queda. O fato de o design dos personagens poder ser comparado às lendas gregas mostra o esforço que a equipe fez para criar não apenas personagens atraentes, mas seres inteiros e relacionáveis.

Jinx do Arcane
Por mais insultante que seja ser comparada a Jinx, ela é uma personagem incrivelmente bem escrita, então eu aceito.

Arcane também não desperdiça seus personagens, fazendo bom uso deles para explorar os temas centrais da série. Ao alternar entre diferentes perspectivas, cria um efeito semelhante a filmes antológicos, aprofundando-se nas principais questões do jogo e oferecendo ao público uma variedade de respostas possíveis antes que tirem suas próprias conclusões. E também me impressiona o quão bem apresentaram a moral dos personagens. Muitas obras, ao tentarem criar simpatia pelos vilões, mencionam traumas passados e esperam que o público sinta algo pelo antagonista. Da mesma forma, os heróis, quando forçados a fazer escolhas “erradas”, se afogam na culpa. Arcane não depende de clichês baratos – ela não traça linhas claras entre vilões e heróis, mostrando ao público o trauma por trás de cada personagem e como isso afeta suas escolhas, fazendo-os cometer erros que parecem fadados, compreensíveis e horríveis, tudo de uma vez. Ao todo, a reflexão do programa sobre a ambiguidade inerente à vida cria uma história madura, cheia de nuances e significativa que deixa o público com muito a considerar.

Una cena do Arcane
A série é tão linda que cada cena parece arte conceitual.

Como meu foco é a história, o feito mais impressionante é que ela me fez me preocupar com a forma como seus visuais foram desenvolvidos. O estilo artístico parece único e refrescante, o que alguns atribuem à sua mistura de animação 2D e 3D. Embora não entenda o suficiente para explorar isso em profundidade, acho que ter fundos 2D com sobreposições de animação 3D cria um efeito subconsciente interessante que enfatiza o papel dinâmico dos personagens em um mundo que não está disposto a mudar. O uso de efeitos 2D, principalmente nas cenas de ação, combina perfeitamente com o clima de um videogame, mas por ser misturado com movimentos de “câmera”, parece que alguém está realmente filmando tudo, dando, ao mesmo tempo, uma sensação mais tangível e real. Os designs de Piltover e Zaun também são extraordinários, não só esteticamente, mas feitos para se alinharem aos valores de cada local, aumentando o contraste entre o que representam. Com uma trilha sonora própria incrível, fica claro que a série entrega um banquete audiovisual completo junto com sua trama cativante.

A “maldição da série de videogame” é apenas uma maneira de marcar videogames como uma forma inferior de arte fadada a fracassar – felizmente, porém, isso é facilmente refutado pela existência de séries como Arcane. Mas como ela conseguiu realizar o que tantas outras não conseguiram? Arcane: Bridging the Rift dá a resposta óbvia: o necessário era paixão, criatividade, riscos e uma dose um pouco prejudicial à saúde de perfeccionismo – eu definitivamente recomendaria o documentário para quem quiser ver o que acontece quando os criativos recebem liberdade. Aqueles que desejam replicar o sucesso da Riot não precisam levar seus filmes e séries ao mesmo nível que Arcane, é claro – as críticas do programa são excelentes, então uma adaptação decente pode ser feita com muito menos esforço. Sendo assim, vendo o que Arcane conseguiu, quem se contentaria com pouco?

Mais populares
Mais recentes
comments

Compartilhe sua opinião!

Seja a primeira pessoa a iniciar uma conversa.

2
comment
0
favorite
1
share
report