Frasier: uma jóia atemporal que continua a ressoar no mundo de hoje (Parte 1)

Fiquei feliz em saber que o Paramount+ vai lançar um revival de Frasier em outubro. Como grande fã da série, quero muito saber como ela continuará sem Niles (David Hyde Pierce) e Daphne (Jane Leeves), que não retornarão. No entanto, a ausência deles na série permitiu que Kelsey Grammer reconhecesse uma triste verdade sobre seu personagem: Frasier não teve amigos próximos durante a vida.

Só para constar, Frasier teve onze temporadas, com início em setembro de 1993 e fim em maio de 2004, e ganhou o Emmy de Melhor Série de Comédia por cinco anos consecutivos (1994-1998). A série recebeu um total de 37 prêmios do Emmy, o que é uma conquista memorável entre as séries de comédia norte-americanas.

A falta de amizades próximas ao personagem principal e esses prêmios impressionantes foram os motivos que despertaram meu interesse em conhecer os personagens, a narrativa e o apelo contínuo da série.

De Cheers a Frasier

A série Frasier, protagonizada por Kelsey Grammer, é considerada um dos melhores spin-offs da história da TV. Apesar da série ter ido ao ar por apenas onze anos, Grammer interpretou o papel de Frasier por 20 anos.

Frasier Crane apareceu pela primeira vez na série norte-americana de drama Cheers em 1984 antes de ter seu próprio spin-off em 1993. Essa é outra sitcom clássica na história da TV norte-americana, estreou em 1982 e foi ambientada em um pequeno bar em Boston. A série girou em torno dos garçons e dos clientes habituais do bar.

Em um esforço para compensar o impacto da separação entre os protagonistas, Diane (Shelley Long) e Sam (Ted Danson), na trama durante as filmagens da 3ª temporada em 1984, Frasier Crane foi adicionado como um novo personagem de Cheers.

No início, os criadores pretendiam que Kelsey Grammer fizesse somente algumas aparições. Shelley Long, que atuou ao lado dele, não gostava do personagem de Frasier, mas os produtores ficaram impressionados com a atuação de Grammer. Por fim, o personagem, que originalmente deveria ser uma participação especial, tornou-se um membro fixo do elenco, enquanto Diane saiu de Cheers depois da 5ª temporada.

Antes da temporada final de Cheers, os produtores David Angell, Peter Caseye David Lee (o nome da estação de rádio onde Frasier trabalhou mais tarde, KACL, veio das iniciais dos sobrenomes dos três produtores) decidiu colaborar com Grammer em um novo projeto após o término da série.

A princípio, todos desejavam sair de Cheers, mas a Paramount propôs que eles só pagariam se produzissem uma série spin-off com Frasier Crane como protagonista. Assim foi criado Frasier, que se tornou um dos spin-offs de maior sucesso de todos os tempos.

Eles não são um peso, eles são minha família!

Os criadores fizeram um esforço consciente para evitarem replicar o padrão de Cheers. Em vez de se passar em Boston, na costa leste dos Estados Unidos, Frasier se passa em Seattle, na costa oeste, e o cenário principal é alterado de um bar para uma cafeteria.

A mudança mais significativa de Frasier foi a reinvenção dos personagens e dos relacionamentos, bem como as mudanças no cenário. Frasier Crane, interpretado pelo ator Grammer, é um psiquiatra que estudou nas universidades de Harvard e Oxford. Nas primeiras temporadas de Cheers, Grammer tinha cerca de 30 anos, era magro, tinha um rosto bonito e muito cabelo. Assim, Frasier quase sempre aparece de terno, o que diferencia o personagem da maioria dos trabalhadores que frequentava o bar de Cheers.

Em Cheers, Frasier é retratado como um personagem animado, porém mais cauteloso e sensível do que os outros personagens masculinos. Sua boa educação também o torna mais capaz de se envolver em diálogos profundos.

Quando Frasier foi reapresentado ao público quase dez anos depois de Frasier, tanto o personagem quanto o ator passaram por mudanças significativas. Em uma linguagem mais simples, ele costumava ser um jovem vaidoso, mas depois já havia entrado em uma crise de meia-idade.

Na época em que Frasier estreou, Frasier tinha 41 anos. Depois de ter passado por dois casamentos fracassados, ele voltou sozinho de Boston para sua cidade natal, Seattle. Frasier, que já foi psiquiatra, mudou de carreira e tornou-se apresentador da KACL, uma estação de rádio local em Seattle, onde passava os dias atendendo ligações e fornecendo soluções para vários problemas incomuns do público.

Além disso, os criadores do programa adicionaram Martin Crane (John Mahoney), como o pai de Frasier, e Niles (David Hyde Pierce), como seu irmão mais novo. Embora seja comum uma pessoa ter uma família, em Cheers, Frasier afirmava que o pai, um cientista, já havia falecido e que ele era filho único. Esse "furo" no roteiro foi resolvido em Frasier, mas vou deixar que vocês descubram a resposta assistindo à série.

Em Frasier, Martin se aposentou da polícia mais cedo devido a um ferimento à bala e foi morar com o filho. Seu irmão mais novo, Niles, um psiquiatra, é retratado como igual e rival intelectual de Frasier. A conexão entre Frasier e Niles é um aspecto marcante da série. Eles não apenas compartilham uma semelhança e interesses comuns, mas estão sempre juntos. Eles são até confundidos com um casal gay pelos espectadores, o que gera um humor. A rivalidade e a inveja entre os dois irmãos aumenta cada vez mais e intensificam o efeito cômico.

Curiosamente, os principais criadores não planejaram incluir o personagem de Niles, até que alguém apontou o quanto Pierce se parecia com Grammer na juventude. Pierce até concordou em interpretar o papel antes de ler o roteiro.

É impressionante que Mahoney tenha assumido o papel do pai de Frasier, Martin. Grammer, que já havia colaborado com Mahoney anteriormente, chegou até ele e perguntou: " Você estaria interessado em interpretar meu pai?". Apesar de ser apenas quinze anos mais velho que Grammer, Mahoney concordou sem hesitar. Em fevereiro de 2018, Mahoney faleceu devido a uma doença aos 77 anos. Grammer, ao falar de Mahoney, simplesmente se referiu ao ator como "meu pai", com os olhos cheios de emoção.

Quando a babá Daphne Moon (Jane Leeves) e a parceira de trabalho de Frasier, Roz (Peri Gilpin), entram em cena, temos o elenco principal de Frasier, junto com o cão leal de Martin, Eddie (Moose).

Depois de discutir a relação entre os personagens, fica evidente de onde vem o humor de Frasier. Ele e Niles são psiquiatras e representam a classe média dos Estados Unidos. Eles ganham uma vida confortável, têm gostos refinados e valorizam a pesquisa e o entretenimento.

Durante uma conversa sobre disposição do personagem de "morrer" por comida em um restaurante chique, o pai responde: "Seu país e sua família são aqueles pelos quais você precisa estar disposto a morrer. Comida é para comer.". Em comparação aos dois filhos, Martin, que seguiu a carreira de policial, é mais sociável e compartilha os interesses dos trabalhadores norte-americanos da classe mais baixa, como usar roupas casuais, beber cerveja e assistir a programas de TV e jogos de futebol.

Há uma clara diferença entre o pai e os filhos, não só nos seus hábitos de vida e hobbies, mas também nas formas de pensar e de abordar as pessoas. Frasier e Niles tendem a se envolver em longas discussões e sempre acrescentam opiniões, enquanto Martin tem uma personalidade direta, vê as coisas de uma maneira simples e precisa, além de muitas vezes adotar uma abordagem mais objetiva. Martin se esforça para entender por que os filhos têm tanto a dizer todos os dias e às vezes pergunta a eles: " Sobre o que vocês dois estão falando o tempo todo?". Martin até duvida se os dois filhos são seus, e os irmãos também se perguntam se Martin é o pai deles, fazendo até piada da situação.

O enredo principal de Frasier gira em torno da contradição e o confronto entre pai e filho, descritos como uma diferença entre duas gerações ou entre classes, estilos de vida e modos de pensar. Essa diferença é ainda mais complicada devido ao amor entre os membros da família. Essas questões foram discutidas no passado e continuam sendo discutidas em vários contextos até hoje.

Leia a segunda parte:

Frasier: uma jóia atemporal que continua a ressoar no mundo de hoje (Parte 2)